Mira, tu, que cosas pasan
Que algunos años después
En esta tierra cubana
Yo encontré mi querer
Foram os versos citados acima da música “Três caravelas” (“Las Tres Carabelas”), dos espanhóis Augusto Algueró Jr. e G. Moreu (Santiago Guardia Moreu), cuja versão em português de João de Barro foi gravada por Caetano Veloso no disco Tropicália ou Panis Et Circencis (1968), que inspiraram o compositor Fernando Pellon na criação da canção “Coisas do espírito”, gravada pela cantora Fátima Guedes, no álbum “Medula e osso” que o artista lançou em abril de 2023.
“Essa música foi inspirada na faixa ‘Três Caravelas’ do álbum Tropicália que é uma versão ufanista de João de Barro, para uma rumba urbana. Como apontado em 2010 por Jade Oliveira e Rainho da Cunha, em um trabalho de conclusão de curso na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, essa canção ‘retrata, com tom de humor e carnavalização, as navegações e o descobrimento, a colonização e aculturação impostas aos territórios latino-americanos, fazendo menção e integrando a essa vivência arcaica a revolução cubana'”, disse o compositor.
Quando começou a burilar a letra da música, a ideia do compositor era encontrar uma punch line (piada) que pudesse impactar o tradicional anticomunismo de parte da elite brasileira. “Imagine um reacionário chegar ao céu e encontrar Fidel Castro. Definida a ideia principal, a letra fluiu de uma vez só”.
Uma vez tendo definido o quê e como deveria ser apresentado o personagem central da sua crônica musical, Fernando Pellon escreveu os primeiros versos:
Atravessando o túnel,
Um dia sei, vou encontrar a paz
A paz do outro lado,
Pois meu lado é o de lá
O lado de lá, segundo Fernando Pellon, “é o lado da transgressão e da informação, em oposição à redundância na música popular brasileira e à asfixia causada pelo bom gosto da poesia água com açúcar”.
E como era a sua intenção, Fernando Pellon conseguiu encontrar a sua punch line em “Coisas do espírito” fazendo com que a figura do líder comunista e ex-presidente de Cuba, Fidel Castro, reapareça no paraíso.
“A letra leva o ouvinte para um aparente viés de espiritualidade, para, repentinamente, apresentar a irrupção no paraíso da figura de Fidel Castro. Quando fiz essa letra, minha mãe perguntou: ‘Filho, você não é feliz?’. Assim, eu trouxe tal preocupação ao ‘papai Fidel’, no momento em que ele recebeu o eu lírico no céu”.
Gostou da história da música “Coisas do espírito”? Ela é a décima faixa do álbum “Medula e osso”, cuja melodia tem uma levada caribenha. Para saber mais sobre a música e ouvi-la acesse: https://fernandopellon.com.br/letras-e-partituras/medula-e-osso/#CoisasdoEspirito .
Você também poderá ouvir “Coisas do espírito” nos streamings:
Spotify: https://open.spotify.com/intl-pt/track/0KosdsLYGE1GcnGpDY5GAM?si=3543583d56034731
Deezer: https://deezer.page.link/ao8W1RbkyGmTrrL3A
Apple Music: https://music.apple.com/us/album/coisas-do-esp%C3%ADrito/1678152735?i=1678153021