Trinta e oito anos depois do seu lançamento, em 1987, o curta-metragem “É Miquelina, minha mulher”, da diretora e roteirista Fátima Lannes, ainda provoca debates e continua sendo exibido em sessões especiais de cinema. O filme estará em cartaz nesta segunda-feira, 22 de setembro, às 20h, na programação do Cineclube Joaquim, no Teatro dos Ventos, em Brasília (DF).
“É Miquelina, minha mulher” vai rodar junto com dois outros curtas-metragens que também abordam as relações de personagens femininas com a morte e o amor.
“Todos são histórias sui generis, o documentário ‘Ovos de dinossauro da sala de estar’, de Rafael Urban; e a ficção científica ‘Notas sobre a identidade’, da cineasta de Brasília chamada Marisa Arraes. A sessão faz parte de um ciclo proposto pela nossa curadora Bruna Ruperto para o mês de setembro”, disse o cineclubista Igor Cerqueira.
Humor cáustico
Inspirado na letra da música “Flores de plástico ao amanhecer”, do compositor Fernando Pellon, o curta explora a história de um casamento em que mesmo após a morte do marido a esposa continua mantendo o relacionamento que acaba com a chegada das flores de plástico. A composição foi gravada originalmente no disco “Cadáver pega fogo durante o velório”, na voz de Nadinho da Ilha (1934-2009), e acabou fazendo parte da trilha sonora do filme.
“É boa a minha sensação sobre o filme estar sendo assistido e com opiniões que muito me envaidecem”, comentou Fátima Lannes ao lembrar uma fala do cineasta Joaquim Pedro de Andrade, com quem teve a oportunidade de discutir o roteiro. A citação a que Fátima se refere é a seguinte: “O cinema que faço é minha visão comentada e inventada a partir do real do mundo que a gente vive. E esta minha visão é quase sempre meio cruel e o humor é cáustico. É neste humor que acho graça. Taí o porquê da admiração pela Miquelina!”.
Festival estrangeiro
Fátima contou que também foi convidada para participar do festival “Cabane à Sang”, evento anual de cinema sediado em Montreal, no Canadá, que, desde 2017, celebra curtas-metragens trash, de terror e ficção científica. O chamado partiu de Frank Appache, ator, diretor que se autodenomina “rei do trash“.
“Se isso é surpreendente? Caros amigos, tem esse curta baseado na letra de música ‘Flores de plástico ao amanhecer’ de Fernando Pellon, amigo, parceiro e, como o disco ‘Cadáver pega fogo durante o velório’, reconhecido, tardiamente, aplaudido. O que mais poderia acontecer também com o curta-metragem? A vingança vem montada num defunto que finalmente retoma e defende seu lugar de direito na arte musical e na sétima arte!”, declarou Fátima Lannes.
“Redescoberta” gratificante
Autor de seis composições que fazem parte da trilha sonora do filme, o compositor Fernando Pellon disse que a “redescoberta” do curta-metragem é uma realização para quem participou de sua elaboração. “Indica que, apesar de ter sido filmado na década de 80 do século passado, as escolhas estéticas que nortearam sua criação continuam pertinentes hoje”, afirmou.
Fernando ficou entusiasmado quando descobriu que as gravações da trilha sonora se encontram em excelente estado, apesar do tempo, e já pensa no lançamento de um EP com as músicas. “Tenho seis músicas na trilha sonora: ‘Flores de plástico ao amanhecer (que inspirou o filme), ‘Rigidez cadavérica’, ‘Crime hediondo’, ‘Jardim da saudade’, ‘Não é bem assim’ e ‘Álibi vulgar’. Desse modo, o curta-metragem representa a continuidade de minha trajetória como compositor. Portanto, é muito gratificante saber que ele vai ser exibido novamente, depois de tantos anos no ‘limbo’ da memória nacional”, declarou.
Serviço:
Entrada franca
Classificação indicativa da sessão: 14 anos.
Os três filmes serão exibidos com legendas descritivas.
Teatro dos Ventos: Rua 19 Norte, ed. Duo Mall, loja 05
. Este projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal.