Fernando Pellon foi convidado pelo amigo e sambista paulistano Douglas Germano, para integrar o movimento “Samba contra o fascismo”. Ele que já sofreu a violação da sua criação artística, ao ter uma música censurada pelo regime da ditadura militar (1964-1985), aceitou prontamente o convite.
Essa ocorrência é lembrada pelo compositor como a pior experiência que vivenciou na sua trajetória como artista independente, quando gravou o seu primeiro disco “Cadáver pega fogo durante o velório”, em 1983. Na época, o disco atravessou os sombrios e complicados desvãos da Censura Federal, com uma de suas faixas vetada.
A composição, à época sob o título “Com todas as letras”, foi censurada e passou por um longo processo, que durou cerca de oito meses, até que o veto foi derrubado no Conselho Superior de Cultura, com o apoio do pesquisador Ricardo Cravo Albin. Felizmente o talento venceu, e o disco virou cult e continua sendo muito bem avaliado pela crítica musical e cultuado, inclusive, pela turma do rock.
“O samba é uma trincheira histórica de resistência cultural do povo brasileiro. Fiquei muito honrado ao ser convidado pelo Douglas Germano a fazer parte da turma do ‘Samba contra o fascismo’, afirma Fernando Pellon.
Douglas Germano disse que a ideia do movimento surgiu do time de futebol Madrugada Futebol e Samba, formado por músicos de São Paulo, cujo plantel tem outras preocupações para além das quatro linhas.
“Durante todas as manifestações ocorridas a partir de 2013, que configuraram o golpe, organizamos o que chamamos à época de ‘Batucada da Resistência’ contra o golpe e o impeachment. Íamos pra rua, munidos de instrumentos e armávamos uma grande roda de samba no meio da Av. Paulista.
Douglas Germano contou que o manifesto contra o “fascista de plantão” (numa referência ao candidato à presidência Jair Bolsonaro) também surgiu no Madrugada (time de futebol), mas dessa vez a proposta era ampliar essa roda virtual. Segundo o sambista, foi feito um trabalho grande durante duas semanas para conseguir adesões de peso. Mas que valeu à pena, porque o movimento conquistou a adesão de Milton Hatoum, Aldir Blanc, Chico Buarque, entre outros renomados artistas.
“Eu mesmo enviei o convite para o Fernando Pellon, que eu conheci quando fui convidado para participar do show em comemoração aos 35 anos da gravação do seu primeiro disco “Cadáver pega fogo durante o velório”. Em nossas conversas já era possível notar o seu descontentamento com a situação do país, e os destinos políticos que se apresentavam naquele momento. Fiz o convite para sua adesão à página ‘Samba contra o fascismo’ e ele aceitou prontamente”, declarou Germano.