Nesse breve bate-papo, Fernando Pellon manifesta a sua preocupação com a decisão do governo de acabar com o Ministério da Cultura, medida que segundo ele vai atingir, negativamente, toda a produção cultural do Brasil, com especial prejuízo para os autores independentes. O compositor fala também sobre as dificuldades que esses artistas enfrentam no mercado fonográfico.
Qual é a sua opinião sobre o mercado fonográfico no Brasil para artistas independentes como você?
Creio que o mercado fonográfico há muito privilegia a redundância em detrimento da informação. Ou seja, a produção musical tem baixo “valor agregado”, como se fosse uma commodity, com qualidade e características uniformes, que não se diferenciam de acordo com o autor ou intérprete. Esse é um ambiente sem espaço para a experimentação independente.
Além do pouco espaço nos canais tradicionais de divulgação (rádio e TV), qual é o fator mais prejudicial ao trabalho de divulgação da música de artistas independentes?
Aversão ao risco.
Qual tem sido o papel da crítica especializada nesse processo?
Se a crítica especializada faz parte dessa cadeia industrial de valor, apenas divulgando press-releases, não há muito o que esperar. No entanto, devemos lembrar que as colunas de Torquato Neto sobre música popular nos jornais do Rio de Janeiro serviram de base para a divulgação das ideias do Tropicalismo. Onde há conteúdo e coragem, arranja-se espaço.
De que maneira o trabalho de compositores independentes foi afetado pelas novas mídias de distribuição de obras musicais?
A internet foi um espaço muito bem aproveitado para a discussão e divulgação de novidades na música popular brasileira. Existem inúmeros blogs e sites onde jornalistas e artistas podem trazer a todos o oxigênio dos novos caminhos da criação. Foi lá que o “Cadáver Pega Fogo Durante o Velório” ressuscitou, depois de permanecer na tumba por mais de duas décadas.
Qual é a sua opinião sobre o fim do Ministério da Cultura?
Quando Kofi Annan tocou atabaque no show em que Gilberto Gil cantou “Toda Menina Baiana” na ONU, ficou clara a capacidade do Brasil de influenciar indiretamente o comportamento de outras nações por meios culturais. Isso é soft-power, vantagem competitiva de um país que pode estabelecer novos paradigmas civilizacionais fundados nos trópicos. Um governo que extingue o Ministério da Cultura abre mão desse capital geopolítico para simplesmente cumprir o papel não-protagonista de fornecedor de matéria-prima para o primeiro mundo. Essa drástica mudança de perspectiva afetará negativamente toda a produção cultural do Brasil, com especial prejuízo para a concepção de caminhos independentes para a música popular brasileira.