O reencontro de Fernando Pellon com a cantora e compositora Fátima Guedes em um estúdio de gravação em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio, ocorreu em um clima de descontração de uma amizade que já dura desde os anos 1990. Ele a conheceu por intermédio do compositor e músico Paulinho Lêmos, que também é cantor. Em 2016, Fátima foi uma das cantoras convidadas para participar do disco “Moribundas vontades” e gravou a música “Ronda carioca”.
No novo disco de Fernando Pellon “Medula e osso”, que se encontra em fase de produção, Fátima Guedes interpreta a música “Coisas do espírito”. A cantora é grande admiradora do trabalho do compositor, cujo estilo poético ela já comparou ao do poeta Augusto dos Anjos.
“Eu fui apresentada ao trabalho do Fernando Pellon pelo Paulinho Lêmos, parceiro dele e meu violonista nos anos 80, e, desde então, aprendi a saborear essa linguagem personalíssima, até hoje ímpar na nossa MPB. O Pellon é o belo-horrível com humor e filosofia, um desafio que apenas uma alma muito livre pode encarar. Virou cult, virou must e eu vi isso quando fizemos um show em São Paulo, para uma plateia numerosa que me surpreendeu cantando junto, em total conexão. É um poeta diferenciado, um novo gótico, um Augusto dos Anjos moderno. Serei sempre uma crooner muito feliz e curiosa dessa estética única do trabalho musical do Pellon, e que com a ajuda do maestro Jayme Vignoli (responsável pela direção musical do disco) tudo fica ainda mais sofisticado, é chic demais”, disse Fatima Guedes.
Entusiasmado com a participação da cantora em seu novo disco, Fernando Pellon lembrou de um texto denominado “Teoria da guerrilha artística”, de Décio Pignatari, que afirma que “a guerrilha é uma estrutura móvel operando dentro de uma estrutura rígida, hierarquizada. É a informação (surpresa) contra a redundância (expectativa)”.
Ao recordar o contexto da guerrilha artística na visão de Décio Pignatari, Fernando Pellon falou sobre a música que escolheu para Fátima Guedes em seu novo álbum, e contou porque convidou a cantora para interpretá-la. “Não há nada mais surpreendente, do ponto de vista do senso comum brasileiro, do que encontrar Fidel Castro quando se chega ao paraíso. Só a Fátima Guedes poderia interpretar essa música”, disse o compositor.